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sábado, 7 de janeiro de 2012

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

RUMO - DILETANTISMO


    Em 1974, alguns anos antes do início do movimento cultural vanguarda paulista, dez estudantes da Escola de Comunicação e Artes da USP se juntaram para formar o Grupo Rumo. Como eles mesmos explicitam no termo que dá título ao álbum, eram apaixonados por música que se dedicavam à ela por prazer, e tal qual outros grupos da mesma cena, chegaram a gravar pelo selo que o teatro Lira Paulistana, na praça Benedito Calixto, criou - como é o caso deDiletantismo. Na formação original, a que está presente no disco em questão, alguns nomes ganharam relativa fama hoje em dia, mas os integrantes da época eram Ná Ozzeti, Luiz Tatit, Hélio Ziskind, Paulo Tatit, Pedro Mourão, Geraldo Leite, Akira Ueno, Ciça Tuccori, Gal Oppido e Zé Carlos Ribeiro, privilegiando a voz sobre as cordas, sopros e percussão. De fato, as letras compostas em sua maioria por Luiz Tatit tem um papel marcante no som produzido pelo Rumo, tanto pelo ar informal quanto pela poesia sem maneirismos que as canções trazem.
    Algumas delas, por exemplo, são quase declamadas, como na décima primeira faixa Falta Alguma Coisa, em que Ná Ozzetti parece pensar alto sobre sua sensação de vazio, num momento antes de sair de casa para o trabalho. Mas logo depois da música tornar-se mais melodiosa, a faixa chega ao fim e dá lugar à agitada Sob o Domínio do Frevo, iniciada pela voz da cantora em diálogo com Geraldo Leite, encerrando de vez a reflexão solitária de Ná. Porém, todas as músicas tendem a aproximar o ouvinte do enredo, ou pelo cunho quase voyeurístico sobre uma cena (como Ladeira da Memória), ou pelo tom de conversação reforçado pelos cantores. Aliás, Ladeira da Memória talvez seja uma das faixas mais interessantes nesse disco pois, como em muitas letras do Rumo, ressalta cenários e passagens de São Paulo. 
    Infelizmente, como aconteceu a vários produtos da vanguarda paulista, o sucesso do grupo não atingiu grande público, pela linha independente e experimental que não interessava a tantos ouvidos na época. Contudo, como o foco das suas experimentações é mais ligado ao destaque aos versos do que aos arranjos e melodias, as letras pedem aos ouvintes que as acompanhem, pois está aí a maior graça do Rumo. E em Diletantismo, boas histórias têm de sobra, cantadas por estudantes que desde a formação da banda já eram pra lá de ótimos músicos. 

do blog "saqueando a cidade" http://saqueandoacidade.blogspot.com


1. A banda de cá e o bando de lá
2. Ladeira da Memória
3. Saudade Moderna
4. Aceita a Serenata
5. Sorriso
6. Hora da Vida
7. Início
8. O que é que você fazia
9. Fundação da Cidade
10. Diletantismo
11. Falta Alguma Coisa
12. Sob o Domínio do Frevo
13. Mesmo Porque
14. Quem é?
15. Nego, nega

Antonio Hart - Here I Stand

Voltando a fazer postagens aqui no blog eu escolhi esse disco de Jazz do saxofonista Antonio Hart. Ele faz parte de uma geração que começou a carreira solo na década de 1990. Este disco é de 1997.



1. THE COMMUNITY  7'06
2. TRUE FRIENDS  5'32
3. FLAMINGO  7'44
4. BROTHER NASHEET  4'08
5. VEN DEVORAME OTRA VEZ  5'01
6. RIOTS...THE VOICE OF UNHEARD  7'13
7. MILLENNIUM  6'09
8. LIKE MY OWN  8'05
9. THE WORDS DON'T FIT IN MY MOUTH  
4'47




Personnel: Antonio Hart (soprano, alto, tenor & saxophones); Jessica Care Moore (vocals); Mark Gross (alto saxophone, flute); Amadou Diallo (tenor saxophone); Jay Brandford (baritone saxophone); Patrick Rickman (trumpet); Robin Eubanks (trombone); Shirley Scott, James Hurt (piano, organ); John Benitez, John Ormond (bass); Nasheet Waits (drums); Pernell Saturino (percussion).

A CANÇÃO POPULAR BRASILEIRA E A DÉCADA DE 1930

    A música popular do Brasil sempre foi dadivosa no que diz respeito ao aparecimento de personagens importantes para sua história. Este campo talvez só seja igualado em sua abundância de craques, por outro campo também pródigo: o futebol.  A década de 1960, por exemplo, fez surgir uma quantidade espantosa de compositores, músicos e cantores que se tornaram como que canônicos no campo. Mas antes dessa geração valorosa sessentista, uma outra foi também, e primeiramente, chamada de “era de ouro da música popular brasileira”: a década de 1930.Ela ganhou essa alcunha, digamos assim, por conta de ver florescer uma geração que para sempre ficou marcada no imaginário musical brasileiro. Surgiram nesse período compositores tais como Noel Rosa, Assis Valente, Dorival Caymmi (surgido no final da década) e Wilson Batista associados com intérpretes como Francisco Alves; Orlando Silva e Mário Reis. Este último considerado como um dos cantores que influenciaram João Gilberto na criação de um jeito diferente de cantar, que seria a marca da bossa-nova no final da década de 1950. 
  Não foram poucos os sucessos que permaneceram para sempre no repertório do cancioneiro nacional: carinhoso, de Pixinguinha; com que roupa, de Noel Rosa; Camisa listrada e boas festas, de Assis Valente, esta última vindo a se tornar um verdadeiro hino do natal brasileiro gravada na ocasião pelo estreante Carlos Galhardo (“anoiteceu / o sino gemeu / e a gente ficou / feliz a rezar / Papai Noel...). A lista dos sucessos é grande e tomaríamos o espaço desse artigo se tentássemos nos referir a todas. 
            Mas, como bem gosta de assinalar os historiadores, toda essa movimentação artística e musical não poderia ter se dado no vazio. Transformações políticas e tecnológicas estavam ocorrendo e dando combustível para o surgimento e proliferação da canção popular, e em particular o samba. Em 1922 começam as atividades do rádio no Brasil, e na década seguinte ele já era um meio de entretenimento e informação amplamente popular no país. Começa então a consagração de ídolos nacionais e canções que vão ser conhecidas por todo o Brasil. A rádio nacional, no fim da década de 1930 foi importante para a construção de um imaginário nacional, e foi também ela responsável em grande medida pela transformação do samba como gênero nacional. A ambição de construir uma identidade nacional, que já era uma ambição das elites brasileiras desde o século XIX, vai ganhar grande impulso com o projeto identitário brasileiro levado a cabo pelo governo Vargas. Foi na noite de 10 de novembro de 1937 que Getúlio em sua “proclamação ao povo brasileiro”, em gesto simbólico, queima as bandeiras regionais por considerá-las uma ameaça a unidade nacional. Esse ato foi transmitido para todo país através das ondas do rádio.
            Um pouco depois da criação do rádio no Brasil, outro fator foi de suma importância para a propagação da canção popular e em particular do samba: o início das gravações elétricas, em 1926, em substituição ao antigo sistema mecânico. Se no antigo sistema mecânico se destacava a Casa Edison, como empresa ligada a gravação dos discos, na nova plataforma tecnológica surgem várias empresas multinacionais interessadas no novo empreendimento: Odeon, Victor, Columbia e outras. O mercado de discos torna-se promissor ainda mais pelo processo de modernização pelo qual passava o país, com a concomitante criação de uma classe média urbana, a qual seria a primeira a adquirir esses novos produtos, que não obstante estavam destinados a se popularizar cada vez mais.
            Há também nesse período, segundo alguns pesquisadores como o professor e musicólogo Carlos Sandroni, uma transformação do samba fazendo com que este se “livrasse” de suas raízes ligadas ao maxixe e se tornasse o que veio a se tornar posteriormente. Ele atribui essa transformação a um grupo de sambistas cariocas do bairro do Estácio, dentre eles Ismael Silva. A professora Walnice Nogueira Galvão, no prefácio do livro de Sandroni, conta que Donga, representante da primeira geração de sambistas teria dito que Ismael não compunha sambas e sim marchas, e em resposta Ismael teria dito que Donga não fazia samba e sim maxixe. Curioso assinalar que tanto as elaborações da primeira geração, que se deu predominantemente nas casas das famosas tias baianas na Praça onze, quanto à da segunda geração, no início da década de 1930 no bairro do Estácio, se deram num espaço geográfico batizado por Heitor dos Prazeres como “pequena África do Rio de Janeiro”.
            Polêmicas a parte, fato é que a década de 1930 foi um divisor de águas na história dessa venerável senhora chamada Música Popular Brasileira.