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domingo, 8 de dezembro de 2013

Quando a mídia perdeu o Rumo

Quando a mídia perdeu o Rumo


Há uma dívida histórica da mídia, e em particular da mídia que lida com música, no que diz respeito a obra de um certo grupo paulista da década de 1980. O grupo ao qual me refiro chama-se “Rumo”. Certamente alguns leitores dessa coluna sabem do que estou falando, mas infelizmente a maioria das pessoas que gostam de música não teve a oportunidade de ouvir e analisar o que representou no cenário da canção popular, o aparecimento do grupo.
Após o surgimento da bossa nova no final da década de 1950 e do tropicalismo, na década seguinte, a grande inflexão da canção popular, a meu ver, ficou por conta das criações do mentor intelectual do grupo, Luiz Tatit. Obviamente ocorreram outras tentativas estéticas, como a protagonizada por Arrigo Barnabé, que chegou a ser saudado como o grande inovador da canção, ali pelos inícios da década de 1980, quando lançou o lp “Clara crocodilo”. Sim, certamente foi uma investida e tanto a do Arrigo, tentando lançar mão de elementos da chamada música de vanguarda. O resultado foi bem interessante, e mesmo hoje as canções desse disco devem soar estranhas para muitos ouvintes desavisados.
Mas o vôo de Arrigo foi curto, o que não aconteceu com o do pessoal do Rumo. Em síntese, podemos dizer que a ambição do mentor intelectual do grupo, o Luiz Tatit, era de produzir uma canção que de certa forma se ligasse a uma origem da canção. Um canto falado, no qual a linha melódica seria uma espécie de moldura para o texto. O canto falado não era uma invenção do Tatit, mas o modo como isso foi feito é que distingue o trabalho do grupo. Essa linha melódica diferenciada precisava para seu acompanhamento uma “harmonização” também diferenciada, e é aí que surge o violão do Tatit tocado de uma forma sui generis. Certa vez, o próprio Tatit declarou em uma entrevista que no passado tentou fazer aula de violão, mas sentiu muita dificuldade. Ao invés de desistir de tocar, inventou outra forma totalmente pessoal. E esse “violão” coube certinho nas criações que veio posteriormente a fazer.
É impossível, caro leitor, descrever como esse violão é tocado. É necessário ouvi-lo para perceber toda sua estranheza e toda a sua profundidade. A primeira vez que eu ouvi, senti de cara que se tratava de uma forma de tocar que não tinha nada a ver com a tradição violonística brasileira. Não era o violão de Baden, não era o violão de João Gilberto, enfim... Era o violão de Luiz Tatit, simples.
As letras das canções são também dignas de nota, pois ocorre nelas um rebuscamento e um potencial informativo de maior qualidade. Seria impossível aqui, por absoluta falta de espaço, desenvolver uma análise sobre esse aspecto das canções do grupo, mas vamos brevemente tratar de uma canção em especial. Trata-se da canção “Saudade moderna”. Diz a letra: “uma saudade / é do tempo em que andávamos juntos / era um verdadeiro temporal / mas estávamos sempre juntos / outra saudade era do tempo em que nem te conhecia / e simplesmente eu desejava estar sozinho / era tão bom, era tão calmo, era tão feliz / Uma terceira saudade é completamente inesperada para mim / ela pega um tempo que absolutamente não vivi / nessa saudade não tem você, não tem ninguém, não tem recordação (...) ela incide sobre um tempo que não cabe na história / ela escapa da consciência e se projeta pra fora.
O narrador trata de três tipos de saudades. As duas primeiras são saudades tradicionais, ou seja, saudade de um tempo e um espaço específico. Mas a terceira saudade, que ele chama de moderna, tem uma característica especial, ela não se refere a um tempo ou um espaço determinados. Ela vem de dentro pra fora, ou seja, o espaço ao qual a saudade se refere não é um espaço objetivo, mas um espaço subjetivo. É um tempo que não cabe na história, portanto não é um tempo histórico, e sim um tempo do sujeito, um fluxo temporal interno. Ela ocorre, ao contrário da saudade tradicional, primeiramente na consciência e depois é que se projeta pra fora, invertendo completamente a rota. Este texto é quase uma tese de doutorado.
Ao todo, o Rumo lançou seis discos, estreando em 1981 com o lp intitulado simplesmente como “rumo”, e encerrando suas atividades em 1991 com um disco ao vivo. Há também um DVD lançado em 2006 pela TV cultura de São Paulo. Do grupo saíram a cantora Na Ozzetti (já apontada como uma das maiores cantoras da atualidade); o próprio Luiz Tatit, que desenvolve um trabalho solo e Paulo Tatit, seu irmão, que desenvolve um trabalho de música infantil através do selo “palavra cantada”.
Fica aqui então, a crítica explícita ao silêncio da mídia especializada, que não teve a devida percepção para reconhecer no grupo paulista uma das maiores inflexões da canção popular dos últimos tempos. Registre-se também aqui o papel de sonegação de informação praticado pela mídia radiofônica, que impossibilitou a um número enorme de pessoas de terem acesso a este precioso trabalho.

sábado, 7 de janeiro de 2012

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

RUMO - DILETANTISMO


    Em 1974, alguns anos antes do início do movimento cultural vanguarda paulista, dez estudantes da Escola de Comunicação e Artes da USP se juntaram para formar o Grupo Rumo. Como eles mesmos explicitam no termo que dá título ao álbum, eram apaixonados por música que se dedicavam à ela por prazer, e tal qual outros grupos da mesma cena, chegaram a gravar pelo selo que o teatro Lira Paulistana, na praça Benedito Calixto, criou - como é o caso deDiletantismo. Na formação original, a que está presente no disco em questão, alguns nomes ganharam relativa fama hoje em dia, mas os integrantes da época eram Ná Ozzeti, Luiz Tatit, Hélio Ziskind, Paulo Tatit, Pedro Mourão, Geraldo Leite, Akira Ueno, Ciça Tuccori, Gal Oppido e Zé Carlos Ribeiro, privilegiando a voz sobre as cordas, sopros e percussão. De fato, as letras compostas em sua maioria por Luiz Tatit tem um papel marcante no som produzido pelo Rumo, tanto pelo ar informal quanto pela poesia sem maneirismos que as canções trazem.
    Algumas delas, por exemplo, são quase declamadas, como na décima primeira faixa Falta Alguma Coisa, em que Ná Ozzetti parece pensar alto sobre sua sensação de vazio, num momento antes de sair de casa para o trabalho. Mas logo depois da música tornar-se mais melodiosa, a faixa chega ao fim e dá lugar à agitada Sob o Domínio do Frevo, iniciada pela voz da cantora em diálogo com Geraldo Leite, encerrando de vez a reflexão solitária de Ná. Porém, todas as músicas tendem a aproximar o ouvinte do enredo, ou pelo cunho quase voyeurístico sobre uma cena (como Ladeira da Memória), ou pelo tom de conversação reforçado pelos cantores. Aliás, Ladeira da Memória talvez seja uma das faixas mais interessantes nesse disco pois, como em muitas letras do Rumo, ressalta cenários e passagens de São Paulo. 
    Infelizmente, como aconteceu a vários produtos da vanguarda paulista, o sucesso do grupo não atingiu grande público, pela linha independente e experimental que não interessava a tantos ouvidos na época. Contudo, como o foco das suas experimentações é mais ligado ao destaque aos versos do que aos arranjos e melodias, as letras pedem aos ouvintes que as acompanhem, pois está aí a maior graça do Rumo. E em Diletantismo, boas histórias têm de sobra, cantadas por estudantes que desde a formação da banda já eram pra lá de ótimos músicos. 

do blog "saqueando a cidade" http://saqueandoacidade.blogspot.com


1. A banda de cá e o bando de lá
2. Ladeira da Memória
3. Saudade Moderna
4. Aceita a Serenata
5. Sorriso
6. Hora da Vida
7. Início
8. O que é que você fazia
9. Fundação da Cidade
10. Diletantismo
11. Falta Alguma Coisa
12. Sob o Domínio do Frevo
13. Mesmo Porque
14. Quem é?
15. Nego, nega

Antonio Hart - Here I Stand

Voltando a fazer postagens aqui no blog eu escolhi esse disco de Jazz do saxofonista Antonio Hart. Ele faz parte de uma geração que começou a carreira solo na década de 1990. Este disco é de 1997.



1. THE COMMUNITY  7'06
2. TRUE FRIENDS  5'32
3. FLAMINGO  7'44
4. BROTHER NASHEET  4'08
5. VEN DEVORAME OTRA VEZ  5'01
6. RIOTS...THE VOICE OF UNHEARD  7'13
7. MILLENNIUM  6'09
8. LIKE MY OWN  8'05
9. THE WORDS DON'T FIT IN MY MOUTH  
4'47




Personnel: Antonio Hart (soprano, alto, tenor & saxophones); Jessica Care Moore (vocals); Mark Gross (alto saxophone, flute); Amadou Diallo (tenor saxophone); Jay Brandford (baritone saxophone); Patrick Rickman (trumpet); Robin Eubanks (trombone); Shirley Scott, James Hurt (piano, organ); John Benitez, John Ormond (bass); Nasheet Waits (drums); Pernell Saturino (percussion).

A CANÇÃO POPULAR BRASILEIRA E A DÉCADA DE 1930

    A música popular do Brasil sempre foi dadivosa no que diz respeito ao aparecimento de personagens importantes para sua história. Este campo talvez só seja igualado em sua abundância de craques, por outro campo também pródigo: o futebol.  A década de 1960, por exemplo, fez surgir uma quantidade espantosa de compositores, músicos e cantores que se tornaram como que canônicos no campo. Mas antes dessa geração valorosa sessentista, uma outra foi também, e primeiramente, chamada de “era de ouro da música popular brasileira”: a década de 1930.Ela ganhou essa alcunha, digamos assim, por conta de ver florescer uma geração que para sempre ficou marcada no imaginário musical brasileiro. Surgiram nesse período compositores tais como Noel Rosa, Assis Valente, Dorival Caymmi (surgido no final da década) e Wilson Batista associados com intérpretes como Francisco Alves; Orlando Silva e Mário Reis. Este último considerado como um dos cantores que influenciaram João Gilberto na criação de um jeito diferente de cantar, que seria a marca da bossa-nova no final da década de 1950. 
  Não foram poucos os sucessos que permaneceram para sempre no repertório do cancioneiro nacional: carinhoso, de Pixinguinha; com que roupa, de Noel Rosa; Camisa listrada e boas festas, de Assis Valente, esta última vindo a se tornar um verdadeiro hino do natal brasileiro gravada na ocasião pelo estreante Carlos Galhardo (“anoiteceu / o sino gemeu / e a gente ficou / feliz a rezar / Papai Noel...). A lista dos sucessos é grande e tomaríamos o espaço desse artigo se tentássemos nos referir a todas. 
            Mas, como bem gosta de assinalar os historiadores, toda essa movimentação artística e musical não poderia ter se dado no vazio. Transformações políticas e tecnológicas estavam ocorrendo e dando combustível para o surgimento e proliferação da canção popular, e em particular o samba. Em 1922 começam as atividades do rádio no Brasil, e na década seguinte ele já era um meio de entretenimento e informação amplamente popular no país. Começa então a consagração de ídolos nacionais e canções que vão ser conhecidas por todo o Brasil. A rádio nacional, no fim da década de 1930 foi importante para a construção de um imaginário nacional, e foi também ela responsável em grande medida pela transformação do samba como gênero nacional. A ambição de construir uma identidade nacional, que já era uma ambição das elites brasileiras desde o século XIX, vai ganhar grande impulso com o projeto identitário brasileiro levado a cabo pelo governo Vargas. Foi na noite de 10 de novembro de 1937 que Getúlio em sua “proclamação ao povo brasileiro”, em gesto simbólico, queima as bandeiras regionais por considerá-las uma ameaça a unidade nacional. Esse ato foi transmitido para todo país através das ondas do rádio.
            Um pouco depois da criação do rádio no Brasil, outro fator foi de suma importância para a propagação da canção popular e em particular do samba: o início das gravações elétricas, em 1926, em substituição ao antigo sistema mecânico. Se no antigo sistema mecânico se destacava a Casa Edison, como empresa ligada a gravação dos discos, na nova plataforma tecnológica surgem várias empresas multinacionais interessadas no novo empreendimento: Odeon, Victor, Columbia e outras. O mercado de discos torna-se promissor ainda mais pelo processo de modernização pelo qual passava o país, com a concomitante criação de uma classe média urbana, a qual seria a primeira a adquirir esses novos produtos, que não obstante estavam destinados a se popularizar cada vez mais.
            Há também nesse período, segundo alguns pesquisadores como o professor e musicólogo Carlos Sandroni, uma transformação do samba fazendo com que este se “livrasse” de suas raízes ligadas ao maxixe e se tornasse o que veio a se tornar posteriormente. Ele atribui essa transformação a um grupo de sambistas cariocas do bairro do Estácio, dentre eles Ismael Silva. A professora Walnice Nogueira Galvão, no prefácio do livro de Sandroni, conta que Donga, representante da primeira geração de sambistas teria dito que Ismael não compunha sambas e sim marchas, e em resposta Ismael teria dito que Donga não fazia samba e sim maxixe. Curioso assinalar que tanto as elaborações da primeira geração, que se deu predominantemente nas casas das famosas tias baianas na Praça onze, quanto à da segunda geração, no início da década de 1930 no bairro do Estácio, se deram num espaço geográfico batizado por Heitor dos Prazeres como “pequena África do Rio de Janeiro”.
            Polêmicas a parte, fato é que a década de 1930 foi um divisor de águas na história dessa venerável senhora chamada Música Popular Brasileira.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

O PARTIDO ALTO DE ANICETO E CAMPOLINO

Aniceto de menezes e silva junior, carioca do estácio, nasceu em 1912 e aos 16 anos já era freqüentador assíduo dos eventos de samba, jongo e partido alto, e amigo de grandes nomes do samba. em 1947, foi um dos fundadores da escola de samba império serrano, o que lhe valeu a alcunha de aniceto do império e o cargo de orador oficial da escola. apesar disso, aniceto não era chegado em compor sambas-enredo, e destacou-se no mundo do samba pelo seu talento extraordinário como partideiro. considerado um dos últimos mestres do partido-alto de raiz, chegou a ter catalogadas mais de 600 composições, mas poucas foram gravadas. morreu em 1993, e foi reverenciado até o fim pelos mais jovens.
  Nilton da silva nasceu em 1926 no rio de janeiro, e, 21 anos depois, filiou-se à escola de samba império serrano, que tinha poucos meses de existência. conhecido como nilton campolino, o compositor, partideiro, jongueiro e curimbeiro integrou também o g.r.a.n.e.s quilombo, fundado por candeia em 1975. ao contrário de aniceto, teve diversos sambas gravados por grandes intérpretes, como zeca pagodinho e xangô da mangueira. falecido em 2001, foi o único integrante da atual velha guarda da império serrano que integrou a velha guarda original da escola.

  Em 1977, aniceto de menezes e silva junior e nilton da silva gravaram juntos, pelo museu da imagem e do som, a preciosidade o partido alto de aniceto e campolino (do Blog Mercado das Pulgas)



1 - Segredo de tia romana (Aniceto do Império)
2 - Quem tem, tem (Aniceto do Império)
3 - Um bocadinho só (Aniceto do Império)
4 - Mocinho cantador (Aniceto do Império)
5 - Na volta da novela (Aniceto do Império - Bijuzinho)
6 - Zé Ciumento (Aniceto do Império)
7 - Raízes da África (Aniceto do Império)
8 - Indesejável mulher (Nilton Campolino)
9 - Atroz cativeiro (Aniceto do Império)
10 - Maria Sara (Nilton Campolino)
11 - João do Rosário (Aniceto do Império)
12 - Vacilação não dá pé (Aniceto do Império)

domingo, 17 de julho de 2011

PERNAMBUCO FALANDO PARA O MUNDO - ANTÔNIO NÓBREGA

  Ainda não tinha postado nada do grande artista brasileiro Antônio Nóbrega. Sua obra já conta com vários cd's, dvd's e espetáculos memoráveis. Aqui disponibilizo o seu terceiro disco. Recomendo aos interessados a aquisição do cd original, que contém informações importantes e um encarte muito bonito.


1- Vinde, Vinde moços e velhos
(domínio público)
2- Festa da padroeira
(Capiba)
3- Chegança
(Antonio Nóbrega e Wilson Freire)
4- Olodumaré
(Antonio Nóbrega e Wilson Freira)
5- Cantigas de Roda
(Getúlio Cavalcanti)
6- A dor de uma saudade
(Edgar Moraes)
7- Cocada
(Antonio Nóbrega e Marcelo Vianna)
8- Pau-de-arara
(Guio de Moraes e Luiz Gonzaga)
9- Mulher Peixão
(Luiz de França)
10- Minervina
(Antonio Nóbrega e Marcelo Varella)
11- Seleção Capiba
De chapéu de sol aberto
Oh! bela
Cala a boca menino
Frevo e ciranda
Trombone de prata
12-  Vassourinhas
(Mathias da Rocha)
13- Formigão
(Felinho)
14- Pernambuco falando para o mundo
(Antonio Nóbrega e Wilson Freire)
15- Despedida
(Domínio Públido e Wilson Freire)

QUE TAL O SILÊNCIO?

  Há anos atrás quando eu fazia graduação em música, eu costumava passar pela livraria da Universidade e dar uma olhada nas novidades. Um dia dei de cara com um título que me chamou atenção, pela sua natureza inusitada. O livro se chamava “ódio à música”. Tentei ler de novo achando que estava sendo traído pela minha visão, afinal não era razoável um manifesto contra a música numa universidade que forma músicos, professores e pesquisadores de música. Não era nem mesmo razoável imaginar alguém com tanto ódio dessa arte a ponto de escrever um livro. Que não goste, tudo bem, mas daí escrever um livro, já era demais.
            Esperei um momento em que tivesse mais tempo para saciar minha curiosidade, e quando pude voltei à livraria para acertar contas com ela. Fiquei muito surpreso quando ainda na introdução vi que o autor, Pascal Quignard, era um compositor, regente e educador musical. Realmente um espanto! Mas ainda nas primeiras páginas ficou clara a razão que o levou a tal empreitada. Ele estava simplesmente se rebelando contra uma prática que se tornou, se não universal, ao menos muito disseminada. Refiro-me à prática da banalização da música e a ampliação geral do nível sônico nas sociedades contemporâneas.
            Pensa-se muito pouco nisso, mas os efeitos do som sobre os corpos humanos e dos demais animais não são desprezíveis. Pesquisas militares do governo dos Estados Unidos feitas desde a década de 1960, já apontavam os efeitos danosos do som em altos decibéis em animais. O compositor canadense Murray Schafer relata em seu livro “O ouvido pensante” algumas dessas ocorrências. Numa, por exemplo, ele descreve a morte de um rato quando colocado em um campo sonoro de altos decibéis. Na autópsia fica demonstrado que ele morreu de superaquecimento instantâneo. Outros testes científicos demonstraram que ocorrem mudanças na circulação sanguínea e no funcionamento do coração quando uma pessoa é exposta a uma determinada intensidade de ruído. Na mesma perspectiva, cientistas do Instituto Max Planck realizaram há tempos atrás pesquisas para saber por que pessoas que trabalham em ambientes muito barulhentos tendem a ter mais problemas emocionais e familiares.
            A falta de reflexão sobre os ambientes sonoros acabam por gerar situações esdrúxulas, como a que eu mesmo presenciei anos atrás numa viagem de ônibus que ligava a Penha ao Cosme Velho. A empresa, para demonstrar atenção com seu público resolveu instalar televisores em toda a sua frota. Acontece que os ônibus já possuíam um serviço de rádio, o qual não foi desativado para a instalação do novo serviço. Talvez para agregar mais valor, ficavam os dois meios de comunicação funcionando ao mesmo tempo. É verdade que a televisão ficava sem som, mas era possível, como eu mesmo vi, o vídeo transmitir uma imagem de um guitarrista tocando rock numa performance típica de guitarrista solo, enquanto o rádio tocava um pagodão a todo vapor. Uma loucura!  
            Há uma relação inversamente proporcional entre sociedades pré-industriais de um lado e sociedades industriais, de outro, no que diz respeito aos sons naturais, humanos e de utensílios tecnológicos. Segundo Schafer nas culturas pré-industriais a presença de sons naturais era de 69% dos sons vivenciados, enquanto os sons humanos eram de 26%, e os sons de utensílios e tecnológicos alcançavam apenas 5%. Nas sociedades contemporâneas a proporção é de 68% de sons tecnológicos, 26% de sons humanos e apenas 6% de sons naturais. Isso explica as razões pelas quais o ruído vem sendo incorporado ao discurso musical. Ainda no começo do século XX, em 1913, o compositor Luigi Russolo, escreveu um manifesto no qual defendia a incorporação dos ruídos, presença marcante na vida cotidiana do período industrial, na música desse momento. É “A arte dos Ruídos” o título de seu manifesto futurista.
            De todo modo, é preciso estar consciente das marchas e contra-marchas do nosso tempo e perceber de que modo podemos interferir nos rumos da nossa jornada. A ideia de assimilar os ruídos ao discurso musical pode até ser um jeito de esconjurar, em parte, o demônio-ruído, mas faz-se necessário reduzir seus efeitos nocivos e para isso são necessários consciência do problema e educação para transformá-lo. Urge uma gestão social e democrática do som.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Francisco Mário - Pijama de seda

Outro super LP da produção de Francisco Mário. este é de 1985.


1 Ressureição 
(Francisco Mário) 

2 Espanhola 
(Francisco Mário) 

3 Terra queima 
(Francisco Mário) 

4 3ª guerra 
(Francisco Mário) 

5 Las locas 
(Francisco Mário) 

6 Pijama de seda 
(Francisco Mário) 

7 Souza 
(Francisco Mário) 

8 Venceremos 
(Francisco Mário) 

9 Violada 
(Francisco Mário)
 
10 Faz que vai 
(Francisco Mário)
 
11 Coceirinha 
(Francisco Mário) 

12 Saudade de mim 
(Francisco Mário)