
Não
foram poucos os sucessos que permaneceram para sempre no repertório do
cancioneiro nacional: carinhoso, de
Pixinguinha; com que roupa, de Noel
Rosa; Camisa listrada e boas festas,
de Assis Valente, esta última vindo a se tornar um verdadeiro hino do natal
brasileiro gravada na ocasião pelo estreante Carlos Galhardo (“anoiteceu / o sino gemeu / e a gente ficou
/ feliz a rezar / Papai Noel...). A lista dos sucessos é grande e
tomaríamos o espaço desse artigo se tentássemos nos referir a todas.
Mas,
como bem gosta de assinalar os historiadores, toda essa movimentação artística
e musical não poderia ter se dado no vazio. Transformações políticas e tecnológicas
estavam ocorrendo e dando combustível para o surgimento e proliferação da
canção popular, e em particular o samba. Em 1922 começam as atividades do rádio
no Brasil, e na década seguinte ele já era um meio de entretenimento e
informação amplamente popular no país. Começa então a consagração de ídolos
nacionais e canções que vão ser conhecidas por todo o Brasil. A rádio nacional,
no fim da década de 1930 foi importante para a construção de um imaginário
nacional, e foi também ela responsável em grande medida pela transformação do
samba como gênero nacional. A ambição de construir uma identidade nacional, que
já era uma ambição das elites brasileiras desde o século XIX, vai ganhar grande
impulso com o projeto identitário brasileiro levado a cabo pelo governo Vargas.
Foi na noite de 10 de novembro de 1937 que Getúlio em sua “proclamação ao povo
brasileiro”, em gesto simbólico, queima as bandeiras regionais por
considerá-las uma ameaça a unidade nacional. Esse ato foi transmitido para todo
país através das ondas do rádio.

Há
também nesse período, segundo alguns pesquisadores como o professor e
musicólogo Carlos Sandroni, uma transformação do samba fazendo com que este se
“livrasse” de suas raízes ligadas ao maxixe e se tornasse o que veio a se
tornar posteriormente. Ele atribui essa transformação a um grupo de sambistas
cariocas do bairro do Estácio, dentre eles Ismael Silva. A professora Walnice
Nogueira Galvão, no prefácio do livro de Sandroni, conta que Donga,
representante da primeira geração de sambistas teria dito que Ismael não
compunha sambas e sim marchas, e em resposta Ismael teria dito que Donga não
fazia samba e sim maxixe. Curioso assinalar que tanto as elaborações da
primeira geração, que se deu predominantemente nas casas das famosas tias
baianas na Praça onze, quanto à da segunda geração, no início da década de 1930
no bairro do Estácio, se deram num espaço geográfico batizado por Heitor dos
Prazeres como “pequena África do Rio de Janeiro”.
Polêmicas
a parte, fato é que a década de 1930 foi um divisor de águas na história dessa
venerável senhora chamada Música Popular Brasileira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário